4.3.13

Marcada


            No sábado levei a surra da minha vida. Tudo porque queria ter voz, queria ter opinião. Queria que me escutasses pai, que me reconhecesses. Em vez disso, saltou a mãe como uma leoa e defendeu a posição de pai e autoridade que tens. Bati o pé, queria que cedessem! Minutos depois, arrependi-me.
A minha mãe obrigava-me a ir para o quarto de qualquer maneira, chegando mesmo a agarrar-me pelos cabelos. Ela queria exilar-me, ainda que fosse apenas a alguns metros da sala. Queria calar-me, queria que eu me submetesse. Lutando contra a dor e berrando para que parasse, ela continuava a marcar-me com aquelas mãos que me faziam carícias, outrora. Ouvia o meu pai de fundo a gritar “arranca-lhe a cabeça” como se de um duelo de gladiadores se tratasse. A meio do corredor cedi… sem forças olhei-a nos olhos e perguntei “se és mãe, como sei que és, não me abandones”. Ela responde friamente “se és minha filha, obedece-me”… deixei-me arrastar pela perna que estava magoada… Abandonada e incompreendida fui deixada no quarto… Trancada até. Pulei a janela desesperada em busca de ar. A minha mãe abandonara-me, arrancara-me metade do cabelo, fizera-me sangrar… Agora estava eu numa rua deserta, descalça e despenteada… Perdida e sem rumo. Que haveria de fazer senão chorar? Quando vi algumas aproximarem-se, corri. Ninguém me veria naquele estado, mas precisava que alguém me acalmasse. Entrei pela janela, exatamente de onde tinha saído e sentei-me em cima da cama, sentindo os pés duros e frios daquela corrida sobre brita. Deitei-me e esperei acordar do pesadelo. “WAKE UP!” Berrei… quis acordar… Só sentia dor real, provando-me (infelizmente) que não estava a sonhar. Liguei à única pessoa que me iria atender. Ao menos tinha uma. Despejei, chorei, solucei…
Agora que só restam marcas e pouco cabelo, ainda não te compreendo, mãe. Não te endendo, mas não guardo rancor. Admiro-te e continuo a gostar muito de ti. Ainda que não tenhas pedido desculpa, eu perdoo-te.
Quanto a ti, pai, não espero nada mais de ti.

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