Bússola do tempo

Ando perdida no tempo perdido, procurando utilidade naquelas pantufas cor-de-rosa floridas com manchas de lama. Foram calçadas nas caminhadas pelo bosque, nas buscas pelo unicórnio de arco-íris ou nas noites em que, deitada sobre a relva, tentava encontrar a ursa maior. De robe e pantufas procurava um rumo onde espinhos não houvessem. Nos dias frios, procurava uma cabana abandonada e, nos dias soalheiros, uma brisa do norte. Morria por uma chance de nascer de novo. Ansiava pela tranquilidade e coçava-me de tão quieta. Ria de desespero e chorava de alegria. Procurava encontrar o sentimento adequado ao misto de emoções que sempre me acompanhou na confusão. Persistia na imensa desistência de mim própria que não fazia nem parte do meu ser. Caminhava na relva sem trilho e enxergava o que nunca poderia ver: a resposta. Sorrio e choro sem encontrar um porquê. Encontro resposta nas perguntas e pergunto-me qual será a próxima pista. Vagueio agora sem as minhas pantufas cor-de-rosa floridas. Guardei-as em casa e subi no salto. As minhas pantufas não ficariam tão bem no meu novo vestido preferido.